ACIB debate o futuro do sector do comércio e serviços

A ACIB realizou o Fórum do Comércio - Norte, uma iniciativa promovida em parceria com a Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (CCP) e a Câmara Municipal de Barcelos (CMB), sobre o lema “O Comércio Faz o Futuro”.

A ACIB inseriu a realização deste fórum dentro da sua estratégia de defesa do comércio em total consonância com a CCP, visando que todos os intervenientes no sector possam refletir sobre o mesmo e sobre a sua importância para a economia. Este fórum reuniu dirigentes associativos, autarcas e políticos e mais de centena e meia de comerciantes, dos quais 92 foram homenageados por serem associados da ACIB há mais de 40 anos, e fomentou o debate das estratégias reais para se alcançarem objetivos de sustentabilidade e sucesso para o comércio.

          




A sessão de abertura foi presidida por Sua Excelência o Senhor Secretário de Estado do Comércio, Serviços e da Defesa do Consumido, Dr. João Torres, e contou com a presença do vereador Francisco Rocha, em representação da CMB, com o presidente da ACIB, João Albuquerque e com o presidente da CCP, João Vieira Lopes.

A abertura iniciou com a intervenção de Francisco Rocha, vereador da CMB, que, depois de dar as boas vindas aos comerciantes, dirigentes associativos, autarcas e políticos presentes, referiu as potencialidades da cidade de Barcelos e a dinâmica da CMB na sua projeção e impactos a nível de desenvolvimento do sector do comércio e serviços. Deu nota do facto de Barcelos fazer parte da Rede de Cidades Criativas da UNESCO na categoria do Artesanato e Arte Popular. Destacou a importância que estes títulos representam para Barcelos e para o desenvolvimento do comércio nacional e local. Concluiu dizendo que Barcelos é uma cidade maravilhosa, hospitaleira, e acolhedora com potencial de desenvolvimento económico e que a CMB se encontra disponível para o estabelecimento de parcerias estratégicas em prol do desenvolvimento deste sector tão importante para a cidade e concelho.

Na abertura, prosseguiu-se com a intervenção de João Albuquerque, presidente da Direção da ACIB, que contextualizou a iniciativa fazendo referência ao conteúdo do programa e o seu propósito "promover o debate, a reflexão sobre o sector e a sua dinâmica numa perspetiva positiva". Era premente e mais salutar que se debatesse o futuro do sector daí o lema do fórum “O Comércio Faz o Futuro". Continuou destacando que este evento "permitirá que se debatam estratégias reais para se alcançarem objetivos de sustentabilidade e sucesso para o comércio". Frisou que será dado um foco especial na defesa do comércio tradicional e local, visando que todos os intervenientes no sector, comerciantes, dirigentes associativos, autarcas e políticos, possam refletir sobre o mesmo e sobre a sua importância para a economia. Deu nota de que, neste fórum "não seria esquecida a necessidade do sector em ter uma dinâmica de agregação de esforços, de reforço da sua competitividade individual e coletiva, de ações comuns, do incremento da sua divulgação e do fomento da capacidade de união".

O presidente da ACIB destacou que o comércio é ainda hoje o principal sector de atividade na economia nacional e também na regional e concelhia. Revelou dados, trabalhados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) que revelam sinais positivos do comércio no concelho e dão conta de que o sector do comércio e serviços se destaca em Barcelos pelo seu volume de negócios anual, com 1.193 milhões de euros, mais de 36% da faturação total do concelho, sendo mesmo superior ao valor de toda a indústria têxtil (1.147 M€). A este nível destaca-se também o posicionamento do concelho em termos nacionais, sendo o 19.º mais importante dos 310 municípios de Portugal, contribuindo o comércio e serviços para uma fatia considerável dos 3.282 milhões de euros de faturação total. "Estes são os números oficiais que apresentamos e que evidenciam a importância do sector".

Este fórum “constitui uma oportunidade para que os comerciantes e prestadores de serviços possam obter as melhores informações sobre a sua atividade, ver as tendências, poder colocar as suas dúvidas e poderem interatuar entre eles”. Fez alusão a que no contexto local, o comércio está presente em todas as freguesias e contribui de forma decisiva para o desenvolvimento do território. O concelho de Barcelos consegue ter uma dinâmica e de vida de fixação de pessoas e de locais não desertificados, devido em grande medida à existência do comércio nas freguesias.

Para a ACIB, o Fórum do Comércio é a montra para evidenciar todo o potencial do sector e para exigir mais e melhores apoios das entidades públicas, sejam elas locais ou nacionais, pelo que, na sua intervenção, João Albuquerque deu destaque aos programas PROCOM – Programa de Apoio à Modernização do Comércio e URBCOM - Projetos de Urbanismo Comercial e apelou à sensibilidade da Secretaria de Estado do Comércio, Serviços e da Defesa do Consumidor para a importância da recuperação destes projetos que foram muito importantes e fortemente dinamizadores do sector. "Foram projetos que deixaram memórias e marcas visíveis", "foram projetos que envolveram a cooperação das associações, dos comerciantes e das autarquias e que tiveram um forte impacto na modernização dos estabelecimentos, das ruas e na realização de ações de dinamização fortíssimas por parte das associações". "Não há turistas se as lojas não forem dinâmicas, se os centros não forem atrativos". "No passado o segredo era a alma do negócio; nos dias de hoje, a partilha, o cooperativismo é a alma do negócio". Este fórum foi realizado com a intenção de promover a reflexão, fomentar a partilha e impulsionar a mudança".

Apelou à importância da cooperação. Referiu que "sendo Barcelos um concelho com 61 freguesias (com a agregação), o comércio no espaço rural é muito importante e, que hoje os presidentes de junta têm um papel muito ativo. O presidente da ACIB diz "que compete às juntas, ao governo, aos autarcas, às associações cooperarem e trabalharem juntos no combate à desertificação das freguesias, criando condições para que os estabelecimentos de comércio e serviços se instalem nas freguesias e criem dinâmica económica nas mesmas".

Abordou ainda um projeto importante e realizado recentemente, o Comércio Investe que é um programa que envolve o comércio "de rosto" e o comércio online uma vez que, para além de apoiar a modernização dos estabelecimentos, apoia o comércio digital, que veio para ficar e para o qual os empresários têm que se adaptar. No caso de Barcelos, foi desenvolvida uma plataforma para o comércio "Barcelos Plaza". O "Barcelos Plaza" é um espaço online que pretende integrar todas as lojas do concelho, colocando à disposição meios tecnológicos de forma a colocar o comércio de Barcelos num rede à escala global.

Na sessão de abertura João Vieira Lopes, presidente da CCP, fez um discurso de saudação breve uma vez que teria quase de seguida uma intervenção de referência. Demonstrou o gosto pela realização do fórum em parceria com a ACIB e com a CMB e reforçou que o conjunto de temas que constituem os painéis serão abordados numa perspetiva positiva. "O comércio tem problemas mas o importante é desenvolver o sector e dar-lhe oportunidade de progressão".

O encerramento da sessão de abertura foi realizado pelo Secretário de Estado do Comércio, Serviços e Defesa do Consumidor, João Torres, que transmitiu de uma forma sincera e franca que não considera que o sector do comércio e serviços esteja condenado. "Acredita no sector pois tem perante si um conjunto muito vasto de oportunidades e é um sector com elevado valor económico". O comércio no país representa 15% do universo, com 670 mil pessoas envolvidas. Desde 2016, que o valor acrescentado bruto tem crescido muito e reconhece que o Governo sente gratidão pelo esforço e empenho dos empresários do sector.

Mostrou-se atento e recordou importantes eixos no sector. Referiu que o governo, no seu programa, vai considerar medidas para a dinamização do sector, pois tem consciência dos desafios que enfrenta o comércio. Contudo, deixou a mensagem de que o novo Governo precisa de interlocutores para com ele desenharem o plano de ação. Salientou que o sector do comércio e serviços tem uma função social e cultural. "Que seria das nossas aldeias e cidades sem o interface do sector do comércio e serviços? O que seria do turismo sem essa "abertura" e sentido de "comunidade?" Em particular no Norte reconhece que o comércio e serviços têm uma ligação muito forte à parte cultural e económica.

Face ao exposto refere que "as políticas do território são fundamentais e que o comércio é um sector que merece respeito, e o novo programa do Governo vai responder às aspirações do comércio e vai fazê-lo com sentido de gratidão pois não haverá Portugal de futuro sem o sector do comércio. Sabe que há desafios e problemas mas também existem oportunidades, dando conta que a digitalização "é importante", assim como a economia circular. "Se olharmos para os grandes players do comércio eletrónico, vemos que eles estão a abrir espaços físicos junto dos clientes. Significa que no comércio o mundo será também offline", disse.

O Secretário de Estado terminou a sua intervenção dando nota de que encara os desafios de forma positiva e que está grato pelo contributo que o sector dá ao desenvolvimento económico do país. Mostrou disponibilidade para em parceira com a CCP, autarquias e associações contribuir para que o sector do comércio e serviços continue a ser o sector mais forte do país.

Coube a João Vieira Lopes, presidente da CCP, fazer a intervenção de referência com o tema "O Futuro do Sector do Comércio e Serviços". Iniciou referindo que é um facto que o comércio tem problemas, mas que já são conhecidos e vividos por todos. Deu destaque a alguns números importantes, sendo que em Portugal existem 200 mil empresas; As grandes organizações têm mais de 100 pessoas ao serviço, mas 350 mil pessoas estão ao serviço de microempresas (menos que 10 trabalhadores). Reforçou que é importante perceber esta realidade.

Deu destaque aos desafios inerentes ao sector do comércio e serviços. Existem tendências e oportunidades que têm que ser aproveitadas pelo sector. "Estamos a assistir ao envelhecimento da população pelo que as lojas de proximidade assumem uma importância maior; os padrões de consumo aliados ao desígnio do Governo no que respeita à sustentabilidade e ação climática; a importância cada vez maior com a saúde e bem estar constituem também uma oportunidade. As lojas de proximidade têm que se adaptar e sair da sua área de conforto. Têm que apostar no aumento da sua competitividade e refletir se devem continuar com a mesma estratégia ou trabalharem em rede, organizarem-se, fundirem-se".

Estamos na "era" das tecnologias, e na sua intervenção, João Viera Lopes referiu que, segundo dados estatísticos, 36% dos consumidores fizeram compras online o que corresponde a 4,9 mil milhões de euros e que a previsão para 2025 é de 9 mil milhões de euros. Refere que, por um lado, as empresas de pequena dimensão têm que começar a apostar nas vendas online. Por outro lado, as empresas grandes estão a voltar-se para as lojas físicas. Reforçou que quem está neste negócio tem que estar inserido em todas as vertentes.

Além dos desafios, este orador apresentou como forte fraqueza do sector do comércio e serviços a baixa qualificação dos efetivos e dos empresários do sector. Informou que 47,7% dos empregados e mais de 50% dos empresários deste sector possuem o ensino básico.

Na sua intervenção ainda deu enfoque à importância do diálogo entre os municípios e o Governo no que diz respeito ao ordenamento do território. "Tem que se ver como se pode dar saltos na dinamização do sector". Tem que se trabalhar em rede. Existem experiências, projetos do passado, que podem ser aproveitados e melhorados para funcionarem melhor". Aproveitou para dar nota ao Secretário de Estado que a Lei do Arrendamento Comercial tem que ser revista, não pode reger-se pela lei geral, não faz sentido.

Destacou a importância da maior aposta, por parte do Governo, na formação e qualificação de funcionários e empresários do sector. Afirmou que o desafio da formação é o grande desafio do movimento associativo e que tem que ser colocado ao Governo. Considera que o modelo de organização da formação tem que ser revisto e que a forma como os fundos comunitários estão estruturados não é a mais fácil de implementar. É importante que haja flexibilidade para abranger este sector. Concluí a sua intervenção de referência referindo que "isto é a chave para a sobrevivência do negócio mas também para a produtividade do país”.


Procederam-se às intervenções técnicas que proporcionaram informação, reflexão, sobre diversos temas de importância para o sector. No primeiro painel designado “A Cidade Como Pólo Económico“, moderado por João Luís de Sousa, diretor adjunto do jornal Vida Económica, foram abordados os temas, "Turismo, Cultura e Shopping", por Abílio Vilaça, professor de empreendedorismo na área do turismo no ESAG e "A Cidade, a Arquitetura e o Comércio" pelo arquiteto João Faria. O segundo painel "Novas Perspetivas Para as Lojas Retalhistas - O Futuro“ foi moderado por José Santos, diretor do jornal Barcelos Popular. Neste painel os temas abordados foram: "O Comércio Digital – O Futuro do Comércio Retalhista" por João Magalhães, NKA New Knowledge Advice; "Os Centros de Arbitragem como Elemento Modernizador do Comércio" por Fernando Viana, diretor do CIAB - Tribunal Arbitral de Consumo e a "A Tendência nas Lojas Retalhistas – O Futuro" por Guilherme Gonçalves, arquiteto na Sugui Design.

Na parte da tarde assistiu-se à intervenção estratégica com o tema "Enquadramento Económico e Perspetivas Futuras". Este tema foi aprofundado por Vanda Geraldes da Cunha, advisor do Banco de Portugal.

No encerramento, Miguel Costa Gomes, presidente da CMB, demonstrou um forte carinho pelo sector do comércio e serviços, que conhece muito bem enquanto empresário e dirigente associativo e sabe das reais dificuldades inerentes ao sector. Referiu que as empresas dependem do mercado e o sector do comércio é o mais afetado. Deu uma palavra de alento aos empresários e incentivou-os a não desistirem. Avançou referindo que o caminho a percorrer não é fácil, mas o importante é trabalhar. O comércio de "rosto humano”, o comércio tradicional, de proximidade, continua a ser muito valorizado e procurado. Contudo, "o mercado é livre e todos nós temos que ter a destreza de nos adaptarmos", por isso é importante que os empresários pensem no seu negócio com estratégia.

O presidente da CMB terminou a sua intervenção reforçando a disponibilidade por parte do município de Barcelos para, em conjunto o Governo e a ACIB, desenvolverem medidas que dignifiquem e potenciem a competitividade do sector.

Concluiu-se o Fórum do Comércio com a cerimónia de entrega de diplomas de honra às 98 empresas homenageadas. Esta homenagem foi feita faseadamente às empresas com 40, 50, 75 e 100 ou mais anos de associadas da ACIB.

Com este evento de grande envergadura, a ACIB conseguiu dignificar o sector do comércio e, em simultâneo, contribuiu à sua potenciação e incremento de competitividade aguardando que os temas abordados e as reflexões produzidas tenham as repercussões e impacto devido quer a nível concelhio, quer a nível nacional. Este foi um fórum dinamizador do sector, com o objetivo de criar novas sinergias e capaz de fomentar novas estratégias e ações.

     





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